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A mostrar mensagens de fevereiro, 2025

Fui eleito pelo povo... e então?

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 Nas últimas semanas tenho reparado na arrogância com que certos políticos, eleitos pelo povo, se tentam colocar acima da lei. Este é sem dúvida um dos sintomas mais preocupantes da degradação da nossa democracia. O caso Tutti Frutti, é paradigmático, pois expõe, com uma clareza dolorosa, que insistem em não querer ver, como o “voto popular” se tem transformado, na boca desses senhores, numa espécie de salvo-conduto para práticas que em qualquer outra democracia saudável seriam causa imediata de demissão. É revoltante? É. Mas sobretudo é revelador da podridão do sistema. Assistir à situação de que, de todos os autarcas apanhados nas malhas do caso Tutti Frutti, apenas um abandonou o cargo – e mesmo assim, dizem, que o fez por questões de saúde, é lamentável. Os outros, sem um pingo de dignidade, achando que pertencem ao clube dos intocáveis, agarram-se aos cargos balanceando o escudo da legitimidade democrática. Mas qual legitimidade?  Será que acham que os eleitores votaram p...

A recuperação integral do tempo de serviço dos professores: um simplex!

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Os professores viram, finalmente, com o atual Governo da AD, reposta a justiça, relativamente à recuperação do tempo de serviço. Com esta medida, Luís Montenegro demonstrou compreensão e conseguiu de uma forma global tranquilizar o clima das escolas. É importante esclarecer que, ao contrário do que alguns comentadores maliciosamente sugerem, ninguém está a receber retroativos. Inicialmente, com pouca noção da realidade, apontou-se setembro de 2024 como a altura em que todos os professores poderiam ver a primeira tranche de tempo de serviço recuperado e consequentemente os seus efeitos nos vencimentos. Só que a metodologia definida para esta recuperação tem gerado enormes constrangimentos nos serviços administrativos e respetivas direções, sobrecarregando desnecessariamente as equipas quando existiria uma solução mais eficiente e justa. Creio que a solução mais adequada, para solucionar as constantes entropias e sobrecarga de trabalho em toda a estrutura diretiva, seria considerar a dat...

A Ética na Política: entre o querer, o dever e o poder

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 Como militante do PSD em Lisboa desde 2018, tenho assistido com profunda preocupação ao desenrolar de eventos que mancham não apenas o nome do nosso partido, mas a própria essência da democracia local. O caso “Tutti-Frutti” não é apenas mais um escândalo político – é o sintoma de uma doença que há muito corrói as estruturas partidárias: o caciquismo, o nepotismo e a instrumentalização dos recursos públicos em benefício de interesses privados. Os contornos desta investigação são perturbadores: conversas sobre distribuição de empregos, contratos direccionados a amigos, uma teia de influências que transformou algumas estruturas partidárias em verdadeiros “clubes privados” onde só entram os que se vergam, os que se calam, os que aceitam o status quo. Como militante, testemunhei ao longo dos anos o sistemático afastamento de vozes independentes, de pessoas que ousavam questionar, que se recusavam a participar no jogo das “cunhas” e dos “favores”. É particularmente preocupante ver como ...

O mito da participação

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As recentes declarações de Luís Marques Mendes, sobre a própria candidatura presidencial, são elucidativas quanto à tentativa desesperada dos políticos reservarem para eles próprios o acesso a cargos de soberania. Se por um lado, vai-se observando uma retórica que exalta a participação civil na política, por outro, na hora H, observa-se uma resistência enorme quando membros da sociedade civil pretendem candidatar-se. Um contrassenso. Em Fafe, na sua apresentação, Marques Mendes elencou todo o seu currículo político e enalteceu-se como sendo um candidato preparado. Até aqui até se podia compreender. O que me parece incompreensível foi o que veio a seguir, quando declarou categoricamente que "o cargo de Presidente da República é um cargo eminentemente político" que "deve ser exercido por quem tem experiência política." Esta posição, reforçada pela advertência contra "aventuras, experimentalismos ou tiros no escuro", ilustra precisamente o mecanismo de exclus...

A Insustentável Desvalorização da Carreira Docente em Portugal

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  A análise detalhada do relatório “Education at a Glance 2024” da OCDE revela uma realidade perturbadora que não pode continuar a ser ignorada pela sociedade portuguesa e, principalmente, pelos decisores políticos. Portugal apresenta uma diminuição de 4% nos salários reais dos professores entre 2015 e 2023, num contexto onde a média da União Europeia dos 25 (UE-25) registou um aumento de 4%. Esta disparidade não é apenas um número – é o reflexo de uma política educativa que sistematicamente desvaloriza os seus profissionais e compromete o futuro da educação nacional. O panorama europeu torna as evidências ainda mais preocupantes e põe a nu a inadequação das políticas portuguesas. Enquanto países como a República Checa implementaram aumentos salariais de 16%, a Escócia de 12%, e mesmo economias comparáveis como a Espanha conseguiram um aumento de 2%, Portugal segue na contramão, juntando-se a um grupo minoritário de países que optaram pela desvalorização dos seus docentes. A anális...

A Falácia da Solidariedade no Ensino

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  A recente decisão do Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) de nomear como "solidária" a bolsa de professores classificadores revela uma profunda desconexão entre a retórica política e a realidade educacional portuguesa. A estratégia ministerial representa um paradoxo perverso: ao mesmo tempo em que se proclama a necessidade de valorizar a carreira docente, implementa-se uma medida que a desqualifica e precariza. A política educativa em Portugal frequentemente revela mais sobre as intenções de quem governa do que sobre as reais necessidades do sistema de ensino. A realidade das escolas portuguesas é marcada por uma escassez crítica de professores, onde a sobrecarga de trabalho se tornou mais uma regra do que exceção. Os professores frequentemente organizam atividades extracurriculares, sem remuneração adicional, dedicam horas pessoais à preparação de materiais didáticos, assumem responsabilidades administrativas não previstas no seu horário, substituem colega...