Fernando Alexandre: O Ministro - Observador



Os professores são, naturalmente, exigentes com os ministros que os tutelam, mas isso não é a causa principal para que nos últimos 30 anos não tenha havido um sequer que tenha reunido algum consenso.

Portugal tem sido, nas últimas décadas, palco de demasiadas experiências ideológicas com resultados altamente questionáveis e esse facto, só por si, faz com que a passagem de Fernando Alexandre pelo Ministério da Educação represente uma lufada de ar fresco, um rasgo de sensatez, de profissionalismo numa área que tem sido tão maltratada e ao mesmo tempo é crucial para o presente e o futuro de Portugal.

O que me levou a escrever este texto foi o facto de ter sentido, finalmente, ao fim de quase duas décadas de ensino, onde fui testemunha das mais variadas políticas educativas das várias agendas políticas, que com Fernando Alexandre há um objetivo concreto de elevar a educação, e dele deu conta aos professores. Mesmo que nem sempre o caminho possa ter sido o mais bem escolhido, mesmo que por vezes os resultados possam ter ficado aquém, não há dúvidas das boas intenções. Ao contrário do que tivemos, por exemplo, nos últimos oito anos que o antecederam.


Já tinha lido alguns pensamentos do atual ministro, por aqui, no Observador, e isso, à partida, deixou-me tranquilo com a sua escolha. Tranquilidade essa confirmada com a sua ação. Pragmatismo, respeito pelos professores, cultivo da imagem do professor de forma elevada, contrariando a praxis habitual de cultivar uma imagem muito negativa dos professores junto da opinião pública. Quem não se lembra da médica que larga o paciente no Bloco Operatório por causa da greve?

Mas Fernando Alexandre percebeu desde logo que não há forma de reformar sem o envolvimento e a valorização daqueles que estão no terreno no dia a dia. Daqueles que dão a cara pelo estado.


A recuperação integral do tempo de serviço, hoje desprezada por alguns, apesar da sua mais elementar justiça só foi possível porque o Governo de Costa caiu. Mesmo com a luta dos últimos anos, o PS estava irredutível. Foi Fernando Alexandre que percebeu que essa seria a primeira grande ação. E fez, com coragem e determinação. Coragem ainda maior com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 15/2025, de 17 de março, que, também, eu já tinha reclamado!


Também percebeu que o projeto Maia estava a ser um verdadeiro cancro nas escolas que o haviam implementado, com resultados duvidosos e professores esgotados. Percebeu porque ouviu os professores que estavam nas escolas. Percebeu e acabou com ele! E bem, dizemos nós!


O ministro atacou o problema de falta de professores de frente, com medidas concretas, as horas extraordinárias, a permanência dos que estavam para sair para a aposentação, a chamada dos que ainda se sentissem com força para voltar. São medidas concretas, sim! Resultaram todas na perfeição? Não. Algumas ficaram longe do esperado? Sim. Mas, pelo menos não se ficou pela retórica. Pensou e agiu! Claro que há sempre quem queira criticar, claro que há sempre incapaz de olhar para algo de forma construtiva. Mas isso são ossos do ofício.


O que torna esta situação, de queda do governo, lamentável é que com a queda caiu também o ministro. Ele que tinha começado a ajustar o rumo de algumas políticas erróneas das últimas décadas. Havia diálogo e acordos com as estruturas sindicais, pensamento estratégico, as provas ModA em final de ciclo, uma ação concertada no sentido de valorizar verdadeiramente a profissão e com isso elevar a qualidade do ensino oferecido nas escolas públicas, uma visão clara sobre o que pretende para a educação em Portugal. Concordam todos com ela? Talvez não, mas há visão, há caminho, sabe para onde quer ir!


Esqueçamos as nossas simpatias partidárias e pensemos pragmática e objetivamente se foi ou não foi, mesmo que apenas em 10 meses, um ministro competente. Um ministro com enorme assertividade no trato com os sindicatos, baseado no respeito e no diálogo construtivo.


Os frutos do seu, curto, trabalho já eram visíveis, pelo que tudo indica que, se tiver oportunidade de continuar, a tendência é de continuar este legado de seriedade e competência.


Quem ganhará serão as gerações futuras, os que mais beneficiam com o sistema educativo sólido e de qualidade, com professores respeitados e motivados.


Caso contrário, lamentaremos todos o facto do seu mandato ter sido tão breve!

Alberto Veronesi in Observador

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