Presos na Teia da Burocracia: Um Olhar sobre a Realidade Docente em Portugal
Há dias, tive uma conversa reveladora com uma professora. O seu desabafo sobre a burocracia excessiva que enfrenta no dia a dia, e o impacto negativo que esta tem no seu trabalho e na aprendizagem dos alunos, abriu-me os olhos para uma realidade preocupante no nosso sistema educativo.
Tudo começou com um desabafo sobre a papelada que tinha em mãos: uma pilha de documentos relacionados com o DL 54/2018 e as medidas universais. Imaginem: 91 itens para preencher por cada aluno, num universo de alubos de 200! Uma autêntica loucura. E o pior é que, mesmo quando tentamos simplificar nas escolas, há sempre alguém de cima a pedir mais um relatório, mais uma grelha, mais uma estatística.
Segundo ela, grande parte do seu tempo é gasto a preencher formulários, relatórios e grelhas, muitos deles com informações repetidas ou de questionável utilidade. Este excesso de burocracia impede-a de se concentrar no que realmente importa: o acompanhamento individualizado de cada aluno, a preparação de aulas estimulantes e uma avaliação que promova a aprendizagem.
É desolador saber que muitos professores, tal como ela, se sentem desmotivados e frustrados com esta situação. Em vez de se dedicarem a ensinar e a inspirar os seus alunos, veem-se obrigados a desempenhar tarefas administrativas que lhes consomem tempo e energia.
Mas as consequências vão muito além da desmotivação docente. A burocracia afeta também a aprendizagem dos alunos. Com menos tempo para o ensino e a avaliação, os professores têm dificuldade em dar feedback individualizado e em acompanhar o progresso de cada um. Para além disso, a ênfase em procedimentos burocráticos pode conduzir a uma estandardização do ensino, o que prejudica a criatividade e a flexibilidade pedagógica.
É urgente repensar esta cultura burocrática na educação. A tecnologia pode ser uma grande aliada, permitindo automatizar tarefas e simplificar processos. É crucial também questionar a necessidade de cada procedimento, eliminando aqueles que se revelarem obsoletos ou redundantes. E, acima de tudo, é preciso dar autonomia aos professores, confiando na sua capacidade de gerir o seu tempo e as suas prioridades.
Acredito que a simplificação burocrática libertaria tempo e energia, para que os professores se pudessem dedicar àquilo que realmente amam: ensinar e inspirar os seus alunos. Uma educação de qualidade depende de professores motivados e comprometidos, não de professores afogados em papel. O desabafo desta professora mostrou-me que a burocracia é um problema grave e urgente na educação em Portugal, e que precisamos de agir para mudar esta realidade.
Alberto Veronesi
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