A Crescente Infantilização da Juventude

 


 




Atualmente, temos facilidade em observar na sociedade um fenómeno social cada vez mais evidente. O prolongamento da adolescência e o consequente adiamento da maturidade psicológica entre os jovens. Já todos ouvimos histórias de pais que entram pela faculdade a dentro para discutir uma nota do filho, ou aqueles pais que marcam entrevistas de emprego pelos filhos. A este processo, o psicólogo Dan Kiley denominou "Síndrome de Peter Pan". E é, aos dias que correm, manifestado cada vez com maior intensidade, potencializado pelas práticas pouco saudáveis dos pais e encarregados de educação.

 

Pais esses que, devido aos seus comportamentos, criaram o conceito da "criança-rei”. Alguém que é criado sob o paradigma da superintendência parental. Os pais, muitas vezes compensando as suas próprias privações passadas ou cedendo às pressões sociais contemporâneas, acabam por criar ambientes artificialmente, e demasiado, protegidos, onde os seus filhos jamais têm oportunidade de experimentar frustração ou limites sem que eles intervenham de imediato.

 

Esta superproteção, dos pais, resulta, naturalmente, em jovens com um défice acentuado de competências essenciais para a sua vida  adulta. A incapacidade de lidar com contratempos, a dificuldade em assumir responsabilidades e a permanente procura pela satisfação imediata são apenas alguns dos sintomas desta criação.

 

Já existem estudos com dados alarmantes sobre o amadurecimento tardio dos nossos jovens adultos. Segundo esses estudos, os adolescentes de hoje demoram mais tempo a tirar a carta de condução, a começar a trabalhar,  a sair de casa e a estabelecer relações românticas do que as gerações anteriores. Este atraso no desenvolvimento da autonomia tem consequências  tanto a nível individual como social.

São vários psicanalistas que alertam para os perigos, óbvios, da infantilização prolongada.  A tecnologia tem um papel fundamental neste processo de infantilização, pois as redes sociais e jogos online proporcionam uma falsa sensação de realização e conexão, enquanto, na realidade, atrasam o desenvolvimento de competências sociais reais e a construção de uma identidade madura. A cultura do “like”.

Naturalmente, as consequências são, também, visíveis no contexto profissional, onde é possível observar como esta imaturidade prolongada tem um impacto incomensurável. As empresas têm vindo a relatar a crescente dificuldade em lidar com funcionários jovens que demonstram baixa tolerância à frustração, dificuldade com hierarquias e expectativas irrealistas sobre progressão profissional. Não aceitam uma critica, reagem mal e estão dispostos a abandonar o local de trabalho por qualquer coisa que os frustre.

 

A solução não é nem linear nem de fácil implementação, mas pode passar por uma reformulação das práticas parentais e educacionais. É fundamental dar a entender aos pais e encarregados de educação que é necessário cultivar a resiliência desde cedo, permitindo que crianças e, posteriormente, jovens enfrentem os desafios apropriados à sua idade e desenvolvam estratégias de superação sem auxílio dos adultos.

Esta infantilização da juventude não é apenas um fenómeno social passageiro, que não carece de atenção, é uma ameaça ao desenvolvimento saudável de toda uma geração. A reversão deste quadro exige um esforço conjunto de pais, educadores, professores e de toda a sociedade que seja capaz de criar ambientes que promovam verdadeiramente o amadurecimento e a autonomia responsável. Por tudo isso, a responsabilização individualizada e a noção de que os seus atos têm uma consequência é fundamental para um desenvolvimento saudável.

Proteger não significa superproteger. O amor parental mais construtivo é aquele que prepara os filhos para os desafios reais da vida adulta. Unicamente através de uma mudança de paradigma relativamente às práticas educativas é que poderemos formar adultos verdadeiramente resilientes e capazes de enfrentar os desafios futuros num mundo globalizado e implacável. Para que se possa dar esta transformação é necessária uma reflexão profunda sobre os valores que estamos a transmitir às novas gerações e um compromisso sério com o desenvolvimento de indivíduos autónomos e emocionalmente maduros.

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