Uma Escola à Deriva

 


Portugal encontra-se num momento crítico em que a educação, alicerce de qualquer nação próspera, se vê ameaçada por um declínio silencioso e persistente. É paradoxal e profundamente preocupante que, enquanto celebramos o aumento das taxas de acesso ao ensino superior, a realidade nas escolas revele um cenário de crescente fragilidade e desmotivação. Os números são incontestáveis: os resultados dos testes PISA e TIMSS, que comparam os estudantes portugueses com os seus congéneres internacionais, demonstram uma queda acentuada, um sinal claro de que algo está profundamente errado. O relatório "Estado da Nação" e os alertas do Conselho Nacional de Educação (CNE) vêm apenas corroborar esta realidade sombria, evidenciando as dificuldades dos alunos em dominar competências básicas como Português e Matemática, colocando em causa não só o seu sucesso académico futuro, mas também a sua capacidade de integração numa sociedade cada vez mais complexa e exigente.

É imperativo questionar como chegámos a este ponto. A resposta, infelizmente, é complexa e multifacetada, enraizada em anos de desinvestimento e de políticas educativas desajustadas. O próprio ex-Primeiro-Ministro António Costa, em 2015, manifestou preocupação com as graves lacunas no sistema educativo nacional, para depois, durante os seus sucessivos mandatos, privilegiar persistentemente uma abordagem ideológica em detrimento de soluções cientificamente fundamentadas, perpetuando um ciclo vicioso de mediocridade que ainda hoje assombra as nossas escolas.

O desinvestimento crónico na educação é uma ferida aberta que teima em não sarar. O Ministério da Educação, relegado para segundo plano na hierarquia das prioridades governamentais, debate-se com orçamentos exíguos, incapazes de garantir as condições mínimas para um ensino de qualidade. A falta de recursos traduz-se em escolas degradadas, turmas sobrelotadas, falta de materiais didáticos e, acima de tudo, na desvalorização daqueles que são o pilar do sistema educativo: os professores. Salários baixos, falta de progressão na carreira, constrangimentos na colocação geográfica e uma formação contínua muitas vezes desajustada e burocrática afastam os jovens da docência, criando um vazio preocupante que compromete o futuro da educação em Portugal.

A este cenário de desmotivação e dificuldades, soma-se a crescente indisciplina nas escolas. Os relatos de agressões a professores, que se estendem agora, de forma assustadora, ao primeiro ciclo, são um sintoma claro da erosão da autoridade e do respeito dentro das salas de aula. É urgente restabelecer o equilíbrio entre a liberdade individual e os princípios de autoridade e hierarquia, garantindo aos professores as condições necessárias para exercerem a sua missão com serenidade e eficácia.

Mas a crise na educação não se limita à falta de recursos e à indisciplina. O facilitismo que se instalou no sistema, com a promoção automática e a ausência de consequências para o insucesso escolar, desvalorizou o mérito e a cultura do esforço, criando uma geração de estudantes despreparados para os desafios da vida. A falta de rigor na avaliação e a tolerância à mediocridade têm consequências nefastas a longo prazo, comprometendo o desenvolvimento pessoal e profissional dos jovens e, consequentemente, o progresso de toda a sociedade.

O Conselho Nacional de Educação (CNE), que deveria ser o motor de mudança e inovação, tem-se, pelo contrário, mostrado retrógrado, apresentando propostas anacrónicas e desalinhadas com as necessidades do século XXI. É crucial uma liderança visionária, capaz de interpretar os desafios contemporâneos e de implementar reformas estruturais profundas. A educação em Portugal não pode continuar refém de ideias ultrapassadas e de interesses políticos.

É tempo de agir, de promover uma verdadeira revolução na educação. Precisamos de um sistema que valorize o esforço e o mérito, que prepare os alunos para os desafios do mundo real, dotando-os de competências essenciais como o pensamento crítico, a criatividade, a colaboração e a capacidade de adaptação. É preciso investir na formação de professores, adequar o currículo às necessidades do século XXI, integrar as novas tecnologias na educação e promover métodos pedagógicos inovadores e cientificamente comprovados.

A educação é um desígnio nacional, um projeto que exige a participação de todos. É preciso um pacto político transversal, que ultrapasse as divergências partidárias, para que possamos construir um futuro melhor para as próximas gerações. O tempo urge, e cada dia que passa sem que se tomem medidas eficazes é uma oportunidade perdida para os jovens portugueses e para o futuro do país.

 

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