A Urgência de Trazer Novos Talentos para a Política

 


É desconcertante verificar que grande parte dos nossos políticos nunca conheceu a realidade do cidadão comum. Nunca experimentaram o nervosismo de uma entrevista de emprego, jamais tiveram de competir num processo de recrutamento ou sequer enfrentaram a ansiedade de procurar trabalho. São profissionais que construíram as suas carreiras exclusivamente através de cunhas partidárias e ligações familiares, criando uma bolha que os afasta, inexoravelmente, da realidade quotidiana dos portugueses.

Esta realidade inquietante tem consequências profundas na qualidade da nossa democracia. Como pode alguém que nunca teve de gerir um orçamento familiar apertado compreender verdadeiramente o impacto de um aumento de impostos? Como pode quem sempre viveu do erário público entender as dificuldades de gerir uma pequena empresa?

O panorama atual da nossa classe política é, francamente, desolador. Multiplicam-se os casos de políticos que saltitam de cargo em cargo, numa dança perpetuada pelo compadrio e pelos jogos de poder partidário. São pessoas que, não raras vezes, desconhecem por completo o significado de "mérito profissional" ou "competência técnica". O seu valor reside, sobretudo, na capacidade de navegarem nas águas turvas das intrigas partidárias.

Esta situação tem de mudar e urgentemente. Não podemos continuar a aceitar que as decisões que afetam milhões de portugueses sejam tomadas por quem vive numa redoma, alheado das dificuldades reais do país. É fundamental implementar medidas concretas que alterem este paradigma.

Em primeiro lugar, porque não estabelecer requisitos mínimos de experiência profissional para cargos políticos? Países como a Estónia já demonstraram que a inclusão de profissionais do sector privado na governação pode trazer resultados notáveis. A transformação digital daquele país é um exemplo paradigmático do que pode acontecer quando se valoriza a competência técnica acima das ligações partidárias.

Em segundo lugar, é crucial limitar o número de mandatos consecutivos, não apenas nas autarquias, mas em todos os cargos políticos. Esta medida forçaria uma renovação natural dos quadros políticos e impediria a cristalização de carreiras políticas vitalícias.

Mais: deveríamos implementar programas obrigatórios de imersão na realidade social para políticos eleitos. Imaginem o impacto de obrigar deputados a passar uma semana a viver com o salário mínimo, ou ministros a utilizarem exclusivamente o Serviço Nacional de Saúde ou os transportes públicos. Talvez assim começassem a compreender verdadeiramente as consequências das suas decisões.

Os partidos políticos têm também de modernizar os seus processos de recrutamento. É incompreensível que, em pleno século XXI, continuemos a assistir à perpetuação de práticas de seleção baseadas em lealdades partidárias em vez de competências técnicas e experiência profissional.

Há exemplos internacionais que podemos seguir. Na Nova Zelândia, a valorização de experiências profissionais diversificadas tem contribuído para uma gestão pública mais eficiente e próxima dos cidadãos. No Reino Unido, há um debate crescente sobre a necessidade de trazer mais profissionais do sector privado e da sociedade civil para a política.

É tempo de Portugal acordar para esta realidade. Não podemos continuar a ser governados por uma classe política que vive numa realidade paralela, desligada das preocupações e desafios do português comum. Precisamos urgentemente de sangue novo na política, de pessoas que conheçam o valor do trabalho, que tenham enfrentado desafios reais no mercado laboral, que compreendam verdadeiramente o que significa gerir recursos escassos.

A democracia não se pode resumir a um clube fechado de privilegiados que perpetuam o seu poder através de conexões partidárias. Tem de ser um sistema vivo, dinâmico, capaz de atrair os melhores talentos da sociedade. Só assim poderemos aspirar a ter um país mais justo, mais eficiente e mais próspero.

É hora de exigir mais. É hora de mudar. O futuro de Portugal não pode continuar refém de políticos que nunca viveram no mundo real.

Alberto Veronesi

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